A Gruta do Itambé - Os mistérios de um paraíso perdido.

by José Márcio Castro Alves
A Gruta do Itambé (Itaimbé – tupi), caverna de vapores e ruídos misteriosos, encravada do topo de um outeiro esquecido e umedecida pelo constante merejar de filetes cristalinos oriundos da escuridão inexplorada.
Uma mina d’água. Por muitas décadas fora atrativo de multidões de romeiros em cata a milagres lendários.
Desde os primórdios atraiu turistas das mais diversas classes que não tardaram a cravar seus nomes nas rochas mais profundas em palimpsestos tacanhos. Muitos datam mais de um século. Recheada de labirintos escuros, fora palco de tragédia de muitos que se perderam tentando alcançar recordes perigosos na escuridão da garganta.


Não tardaram a colocar um altar com imagens de santos e da Virgem, atrativos turísticos que perduraria por muitas décadas até se transformar em depositório de muletas e fotografias dos que alcançaram alguma graça divina.
Lar de morcegos e aves agoureiras, com o frontispício apinhado de ninhos de jandaias enfezadas, ostentava até os anos 1960, bem à frente, um garboso coqueiro macaúba, à direita de quem chega, sentinela solitário. Na parte inferior do brasão de Altinópolis, a Gruta do Itambé e o coqueiro fazem parte da insígnia.


Inesquecíveis os passeios na gruta na quadra da mocidade. Pão com mortadela e limonada após o banho na Cachoeira, um paraíso a cem metros da gruta, galgada após uma trilha em mata fechada. Majestosa pelo paredão retilíneo a despejar um riachinho que se pulveriza no ar pela altitude impressionadora, mantendo o ambiente permanentemente fresco pela sombra constante que ali repousa.
Otaviano Soares, um dos filhos do primeiro prefeito de Altinópolis, Manoel Joaquim Soares, filmou um passeio na Gruta do Itambé em 1949. É um registro primoroso, pois mostra a gruta ainda sem os sintomas do vandalismo decadente do Brasil pós 1979.
Assim como dezenas de milhares de altinopolenses, também conheci a gruta do Itambé, patrimônio da nossa terra.



José Márcio Castro Alves